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Mente...Corpo...Espírito

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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Vídeo - Alamar Régis e o padre médium.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

YouTube - Oração do Pai Nosso em Aramaico com Tradução

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Tudo sobre Visitas Dinâmica para Leitores - Ajuda do Blogger

Reencarnação: uma ideia que fazemos da justiça divina.


Hippolyte Léon Denizard Rivail (Lyon, 3 de outubro de 1804 – Paris, 31 de março de 1869), pseudônimo Allan Kardec, filósofo, educador, escritor e fundador do Espiritismo, deixou-nos inúmeras contribuições epistemológicas importantes para o desenvolvimento da humanidade. Dentre elas, em parceria com os Espíritos Superiores, encontra-se O Livro dos Espíritos, uma obra filosófica espiritualista, ética e moral de alta profundida, contendo os princípios concernentes à Doutrina Espírita (uma síntese do conhecimento espiritual universal).
No capítulo IV (Pluralidade das Existências, item 1 – Da Reencarnação), do mesmo livro citado acima, Allan Kardec questiona os Espíritos com uma pergunta muito simples: “167 – Qual o objetivo da reencarnação?” Para uma pergunta tão objetiva, veio na seqüência uma resposta objetiva: “167– Expiação, aprimoramento progressivo da humanidade, sem o que, onde estaria a justiça?”.
Allan Kardec inquire ainda os Espíritos sobre o tema “Justiça da Reencarnação”, na pergunta 171, do mesmo livro: “sobre o que está baseado o dogma da reencarnação?” A resposta para esta questão é relativamente extensa, incluindo um comentário de Allan Kardec, mas eu sintetizaria com as primeiras frases: “Sobre a justiça de Deus e a revelação, pois, repetimos sempre: Um bom pai deixa sempre aos seus filhos uma porta aberta ao arrependimento.” No terceiro parágrafo do comentário de Allan Kardec sobre essa questão específica, ele afirma: “A doutrina da reencarnação, isto é, aquela que admite para o homem várias existências sucessivas, é a única que responde a ideia que fazemos da justiça de Deus em relação aos homens colocados em uma condição moral inferior, a única que nos explica o futuro e fundamenta nossas esperanças, pois que nos oferece o meio de resgatar nossos erros através de novas provas. A razão indica essa doutrina e os Espíritos no-la ensinam.”
Portanto, foram os Espíritos Superiores e Allan Kardec, os primeiros a considerarem as questões relativas a “Reencarnação e sua justiça”, sob o ponto de vista do Espiritismo (tendo como marco de fundação desta doutrina a publicação de O Livro dos Espíritos em 1857), um aprimoramento espiritual da alma que retorna a vida corpórea e um resgata das faltas ou erros cometidos no passado, em outras existências. Em diversas obras espíritas e não espíritas, sobre o tema reencarnação, de várias culturas diferentes, sob vários olhares distintos, seja de religiosos, não-religiosos, pesquisadores, etc, há um princípio que norteia a ideia da reencarnação: a evidência da existência da vida após a morte e a necessidade que o ser, personalidade ou espírito possui, de retornar ao cenário da terra para resgatar, refazer, cumprir, crescer e transcender as dificuldades da existência biofísica, como uma conseqüência causal que se prolonga em vidas sucessivas.
Sob o olhar das religiões e culturas orientais, a reencarnação e sua justiça se desdobra nos aspectos relativos ao conceito de “carma” ou “karmam”, termo do sânscrito que significa “ação”. No budismo, por exemplo, o ser humano está preso à samsara (roda das reencarnações), por gerar “carma”, onde a libertação da roda de samsara ou das reencarnações deve ser alcançada pelo desenvolvimento de atos e intenções corretas. As várias conceituações de reencarnação que podemos analisar nos faz perceber que o sentido e a ideia de o Espírito retornar à vida biofísica, em outros corpos, após a morte do corpo biológico, permanece inalterado. Este seria um ponto ou fundamento comum entre estas várias concepções de reencarnação
O retorno do Espírito a vida na terra ou reencarnação é um dos fundamentos do espiritismo de suma importância. Fazendo um comentário na questão 199 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec coloca: “Pela reencarnação, a igualdade é para todos; o futuro pertence a todos sem exceção e sem favor para ninguém; os que chegam por último não podem culpar senão a si mesmos. O homem deve ter o mérito dos seus atos, como tem a responsabilidade.” Uma lei universal de causas e efeitos sucessivos, sob o ponto de vista espiritual, mesmo que sejam desconhecidas as causas de alguns desses efeitos evidentes, deve ser considerada como uma explicação plausível e coerente para justificar uma série de acontecimentos pessoais e coletivos, onde a simples expressão ceticista “isso é fruto do acaso” não responde melhor que a ideia de uma ação e reação, direta ou indireta, de fatos e coisas do espírito.
Os mais céticos, certamente, não concordaram com essa hipótese reencarnatória, ainda mais de ser ela considerada como fonte explicativa de acontecimentos passados, presentes e futuros (a esperança na vida futura, da vida após a morte, “reserva-nos” melhores condições de vida, a priori). Os céticos também são coerentes (apenas aqueles que de fato o são) com suas crenças, a priori, onde a negativa da evidência espiritual se forma como um pressuposto explicativo, uma vez que as condições de verificação da realidade espiritual nem sempre se encaixam “perfeitamente” nas teorias e/ou nos métodos científicos existentes. O ceticismo científico baseia-se na necessidade ou na exigência de verificar as ideias, crenças, hipóteses, pressupostos, através dos métodos comprovadamente científicos e historicamente validados por uma comunidade acadêmica, mesmo que nem sempre isso seja amplamente utilizado pelos céticos.
Frente a toda essa conjuntura de fatos sociais, pessoais e acontecimentos fortuitos, “ocasionais”, das pequenas às grandes tragédias, dentre tantas formas de análises das coisas físicas e extra físicas, estamos experimentando o sabor de viver a vida que merecemos. Sim, há um merecimento implícito e explícito em todas essas coisas da vida. Uma expressão muito singela, mas que guarda uma profundidade por trás de suas palavras, quase como quem entra num labirinto e não consegue achar a saída, diz: Quem deve paga, quem merece recebe.
Eu fico pensando... Seria realmente muito injusto eu pagar alguma conta da qual eu não sou devedor! Seria uma crueldade tamanha eu ser acusado de um crime que não cometi! Seria falta de justiça eu ser condenado por algo que não fiz ou receber uma punição maior do que deveria! Merecemos viver aquilo de que somos responsáveis. Merecemos receber aquilo de que plantamos ou estamos plantando. Merecemos passar por aquilo que fomos construindo ao longo dos anos ou estamos construindo agora. Somos merecedores de tudo o que é nosso! Se foram infortúnios, desgraças, maldades ou bondade, amor, paz, fraternidade, o que mais nos dedicamos a fazer, a semear, a construir, consequentemente, será isso o que colheremos ou possivelmente já estamos colhendo no presente! É conseqüentemente válido respondermos ou sofrermos uma ação da qual somos o autor e se faz justiça. Mas o que vem a ser justiça? Segundo os Espíritos que ditaram O Livro dos Espíritos, justiça consiste no respeito aos direitos de cada um e esses direitos são determinados pelas leis humanas e pelas leis naturais.
Quando julgamos as pessoas, suas vidas e suas ações (ainda olhando pelo prisma da justiça e da reencarnação ou da lei do karma, ou da lei de ação e reação), baseando-se na lei de talião - lex talionis -, que consiste numa rigorosa reciprocidade, retaliação do crime e da pena cometidos, vemos mais de perto a condição inferior de nossas consciência em fazer justiça com os mesmos atos de injustiça. Se eu fui agredido injustamente, devo, posso, segundo a lei de talião, revidar meu agressor com a mesma medida de força sofrida. Talvez seja esta a condição primitiva da defesa e do ataque em nossa espécie.
Infelizmente, boa parte das pessoas atribuem causas diretas do passado (outras existências) aos acontecimentos e sofrimentos do presente, uma relação causa-e-efeito direto, quando nem sempre se sabe com critérios lúcidos quais as questões implicadas na história de vida dos envolvidos. A história de vida das pessoas é construída com base nos eventos passados (outras existências) e eventos presentes (atual existência), e para cada abrangência existencial dessa, desdobram-se sem números de outras situações conhecidas e desconhecidas. Uma grande teia complexa de relacionamentos se forma, onde uma única pessoa faz contato direto com outra, e esta por sua vez repete o movimento com uma terceira e sucessivamente, ambas influenciam-se num verdadeiro processo de mutuo contato interexistencial. Tudo se encadeia no universo! Nada está solto, tudo está interconectado.
Segundo o físico nuclear David Bohm, o universo inteiro funciona como um holograma, em que cada uma das partes interpenetra as outras. O todo está nas partes e as partes estão no todo. O nosso corpo seria um bom exemplo de interconectividade funcional e dinâmica.
Podemos receber o fruto de nossos investimentos no presente, por méritos de nossos esforços atuais, como podemos sofrer uma conseqüência, agradável ou desagradável, por causas passadas implicadas em nossa rede de relacionamentos.
Com a questão do merecimento ou da meritocracia, onde obtemos os resultados daquilo de que fomos capazes de realizar por nossos próprios esforços, habilidades e aptidões (méritos), parece-nos que vamos formando uma espécie de banco de dados de atos e intenções, um tipo de currículo vitae, de nosso próprio desempenho espiritual ao longo dos tempos.
Podemos inferir que todos somos merecedores das mais altas possibilidades de perfeição. Por princípios transcendentes e espirituais, merecemos as melhores condições de vida existente e pós-existente, pelo fato, a priori, de sermos imortais e criados para felicidade suprema. Somos divinos! Mesmo assim (e esta é uma situação limitante, condicionante biopsicossocioespiritual), não estamos, enquanto seres humanos enraizados na terra e limitados em várias condições do viver, capazes de nos qualificar como alguém, aqui e agora, livre em absoluto de qualquer mácula pretérita. Nossa situação de Espírito reencarnante e pós-existente á vida biológica, nos favorece a um contínuo desenvolvimento de nossas potencialidades divinas. O potencial é a condição visível ou pensada de uma ação real de vir-a-ser. Pelo fato de estarmos num processo evolutivo e contínuo de ações e reações (karma), estamos construindo o nosso destino, com base em nossa experiência passada, presente e futura. Então, do ponto de vista do equilíbrio da balança encarnatória, sofreremos mais ou menos, ganharemos mais ou menos, receberemos mais ou menos, cumpriremos mais ou menos os nossos destinos, de acordo com a medida dos nossos esforços pessoais e coletivos, considerando a força do passado, do presente e do nosso futuro, todos coexistindo no aqui e agora. Ao dizermos que somos frutos de nossas escolhas no aqui e agora, devemos ampliar esta afirmação para incluir todas as nossas experiências e escolhas passadas, de outras existências, sem o que estariam faltando peças importantes no grande quebra-cabeça da vida e das relações humanas.
Uma outra importante questão filosófica se lança nessa discussão sobre reencarnação como uma idéia de justiça divina, diz respeito com a liberdade. Marilena Chauí, no capítulo 6 – A Liberdade, do livro “Convite à filosofia” argumenta: “Se o mundo é um tecido de acasos felizes e infelizes, como esperar que sejamos sujeitos livres, se tudo o que acontece é imprevisível, fruto da boa e da má sorte, de acontecimentos sem causa e sem explicação? Como sermos sujeitos responsáveis num mundo feito de acidentes e de total indeterminação? Se tudo é contingência, onde colocar a liberdade?” Discorrer sobre liberdade é como dirigir um automóvel em noite escura, chuvosa, com pista escorregadia e pouca visibilidade. O risco de acidentes é muito grande!
Allan Kardec e os Espíritos que ditaram “O Livro dos Espíritos”, afirmam que a liberdade de agir existe desde que haja liberdade de fazer e que a liberdade é uma conquista gradativa como conseqüência do desenvolvimento do homem. O livre arbítrio é aplicado às coisas de acordo com as necessidades. Conforme vamos avançando em nossas necessidades, avançamos em nossa liberdade. Então, de uma forma ou de outra, temos liberdade, porém temporalizadas as condições limites existenciais.
Não podemos pensar a liberdade sem considerar a presença da consciência, da vontade e da responsabilidade. Agir com liberdade é ter consciência para dirigir a vontade e assumir a responsabilidade pelos atos praticados. Mas não estamos conscientes de tudo, nem muito menos o tempo todo! Escolher é colocar nossa capacidade em experimentação. Escolher é exercer o direito de livremente manifestar-se com os recursos e capacidades próprias, segundo a força da vontade e a abrangência da consciência, que assumirá, determinantemente, uma responsabilidade.
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Eu sou Geylson Kaio, psicoterapeuta e atual presidente da ASSEPE.

da do Blogger

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Cientistas são ocultistas? VÍDEO 3/3.
 Assista aqui mesmo.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011



Cientistas são ocultistas? Vídeo 2/3.

Cientistas são ocultistas?


Cientistas são ocultistas? . Um série de 3 vídeos documentário pela Discovery. Assista aqui mesmo.

 



domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cisne Negro: Uma aula cinematográfica de Psicologia Junguiana

por Carlos Antonio Fragoso Guimarães

    A sombra... elemento fantasmático, região do espaço cuja penumbra é provocada quando a luz é impedida de fluir por um objeto... a sombra possui os contornos do mesmo objeto, sendo sua projeção negativa, inevitavelmente ligada a ele... Na psicologia junguiana a sombra é a representação arquetípica de tudo o que temos, potenciais bons e maus, que não reconhecemos como sendo nosso, mas que nos segue onde quer que vamos e que geralmente projetamos em outras pessoas...
    O psicanalista suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) criou alguns dos conceitos de psicologia mais populares (apesar da resistência dos freudianos). Conceitos como “complexos”, indivíduos “introvertidos” e“extrovertidos” e “inconsciente coletivo” são de sua lavra. Ele também propôs que o comportamento humano possui linhas de reconhecimento universal e que são transcritas, metaforicamente, nos mitos e contos universais. A tendência do desenvolvimento de capacidades, dificuldades ou a possibilidade de uma clivagem polar que todos temos (bem e mal, sapiência e demência, etc.) são expressas figuradamente em histórias folclóricas, mitos e contos de fada.    
    Na história de “O Lago dos Cisnes”, que foi musicada e, assim, imortalizada pelo compositor russo Piotr Ilich Tchaikovsky (1843-1893), vemos essa polaridade na presença de Odette, a ingênua e romântica princesa que é transformada em um cisne branco, e Odile, sua irmã gêmea, a maliciosa, sedutora e malvada rainha dos cisnes, e que é o cisne negro. Uma e outra personagem são metáforas das polaridades internas extremas e dos potenciais que todos possuímos, mas que, aqui, se inserem mais na questão do desenvolvimento da psique feminina. A menina sonhadora que desperta para o desejo, à competitividade, ao processo de enfrentar desafios. Quanto mais conscientemente uma dessas polaridades é hipertrofiada, o mesmo ocorre com a outra, mas de modo inconsciente, o que pode causar um conflito psicológico que, em casos extremos, leva ao surto psicótico. Esta ocorrência, que Jung tão bem estudou, foi transposta para as telas em um dos mais notáveis (e raros, dentro do padrão comercial hollywoodiano) filmes dos últimos tempos: Cisne Negro, de Darren Aronofsky, com a esplêndida Natalie Portman no papel da, inicialmente, frágil bailarina Nina.
   No filme, Nina é uma bailarina dominada pela mãe frustrada e que faz de tudo para se destacar no corpo de baile. Assim, quando surge a chance de interpretar as gêmeas opostas de “O Lago dos Cisnes”, Nina se entrega totalmente ao projeto. Super controlada pela mãe, insegura, emocionalmente reprimida e sem amigos, Nina dedica-se exclusivamente ao balé, buscando uma perfeição exagerada que se reflete no controle exacerbado da alimentação e do controle do corpo que ela trata como instrumento – a única forma de contato mais íntimo (e já sintoma neurótico da alienação que se estabeleceu entre o desejo consciente de perfeição e repressão dos sentimentos, que tentam gritar a partir do inconsciente) é a auto-mutilação que ela exerce inconscientemente sobre si mesma, por arranhões.
    Pressionada por seu coreógrafo e diretor Thomas (Vincent Cassel), Nina será questionada, mais uma vez, a demonstrar suas capacidades, já que sua fragilidade ingênua - que é perfeita para o papel de Odette - comprometeria a interpretação de protagonista de “O Lago dos Cisnes”, pois Nina também deve desempenhar o papel da Rainha dos Cisnes, Odile. Nina, então, é desafiada pela própria vida, pelo seu próprio mundo, a entrar em um acordo com sua psique polarizada entre a "persona" consciente, o papel de menininha da mamãe, e a sua sombra: a mulher sedutora, violenta, que ela reprimie no inconsciente. Nina precisa integrar, reconhecer-se em sua própria profunidade, sentir seus elementos aparentemente "negativos" se quiser atingir a perfeição (metáfora da individuação). Ela tem de desempenhar simultaneamente o cisne branco (símbolo da pureza e ingenuidade) e o cisne negro (metáfora para a malícia, sensualidade e maldade). Ou seja, Nina teria de unir, na prática, sua própria psique fraturada entre a “menina” meiga e passiva, cujo quarto é cheio de ursinhos de pelúcia, e a mulher que é/foi reprimida pela mãe e por ela mesma, Nina. O desafio da individuação, contudo, não é isento de perigos.
    O Cisne Negro é, portanto, o desafio do encontro de Nina com sua própria sombra, ou, seja, segundo Jung, com todos os elementos que possuímos mas que são reprimidos, que não reconhecemos como sendo nossos. A questão da projeção interna no meio externo fica sugerida várias vezes pela presença de espelhos sempre presentes ante Nina. Sua maior rival no corpo de baile, a sensual e desinibida Lily, papel desempenhado pela brilhante atriz Mila Kunis, é ao mesmo tempo seu alter-ego, a pessoa que estimula a eclosão do "Cisne Negro" em Nina. Na verdade, as duas belas bailarinas acabam sendo expressões de Odile o Odette ao nível da disputa real, embora, na mente conturbada de Nina, Lily acabe por apresentar traços mais fortes do que realmente possui.
    Está claro que Aronofsky  em seu filme discorre sobre a fragilidade e o tênue equilíbrio da mente humana, bem como as forças que se desencadeiam no palco psíquico quando uma perturbadora ambição a move em busca de um sonho, mas o faz de uma maneira ao mesmo tempo cruel e poética, o que mexe com a psique da maioria das pessoas que assistem o filme, atingidas, inconscientemente, pelos elementos expostos e que repercutem na própria sombra, na própria polaridade consciente/inconsciente, na dualidade do bem/mal de cada um.    
    Na busca pela perfeição e na tentativa de provar a Thomas que é capaz de desempenhar o papel (e, inconscientemente, de integrar e expor seu lado mais selvagem), Nina é conduzida de tal forma pelo enredo e pela busca da perfeição que não consegue perceber que isso está liberando todo o seu mundo de elementos reprimidos, que explode de tal modo que ela já não consegue perceber mais os limites entre sonho e realidade. Aos poucos, seu destino se sobrepõe ao enredo de “O Lago Dos Cisnes”. A música de Tchaikovsky, dramática e bela, é quase como uma expressiva contrapartida de sua metamorfose, elemento sonoro envolvente que "narra" e expressa a tempestade íntima de Nina, e que é indispensável à trama.
    A sombra de Nina, exemplificado pela essência de sua feminilidade, aflora e toma conta de sua personalidade sem que ela consiga controlá-lo. Dá-se inicio a uma metamorfose que expressa aquilo que acontece com muitas pessoas que sucumbem à emergência do material inconsciente pela psicose. No caso de Nina, vemos que tal emergência conduzirá a protagonista a conflitos que a levam a um destino perturbador e extraordinariamente poético, apesar de trágico, numa interpretação arrebatadora de Natalie Portman.    
    O Filme “Cisne Negro” é uma aula de psicologia e cinema, de poesia dramática e filosofia, indispensável ao estímulo do pensar sobre a vida.